O Principezinho de Antoine de Saint-Exupéry
É bom reler bons livros e
lembrar as lições que aprendemos com eles. Nesta obra, tão peculiar, cada
personagem tem algo a nos ensinar, algo que vou partilhar convosco.
O Pequeno Príncipe
Perplexo com as contradições dos
adultos, o pequeno príncipe simboliza a esperança, o amor e a força inocente da
infância que habita o nosso inconsciente. Extraordinário e misterioso, ele vive
num planeta muito pequeno. Lá, um dia, apareceu uma flor.
O Piloto
“As pessoas grandes
aconselharam-me a deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas.”
Foi desencorajado, aos seis anos, pelos adultos que não reconheceram a sua sensibilidade
artística e a sua capacidade de ver além das aparências. Mas anos depois, longe
de todos, desenha a sua própria história. O piloto é a prova de que nunca é
tarde para irmos atrás dos nossos sonhos.
A Rosa
“É preciso que eu suporte duas
ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”. Ela começou a crescer,
parecia vir do nada. Ficou horas a arumar e a ajeitar as suas pétalas... E é
linda! Mas também orgulhosa, caprichosa e contraditória. O pequeno príncipe
apaixona-se e vive para atender aos seus caprichos: um lanchinho, o para-vento,
uma redoma. Mas ela nunca está satisfeita e o nosso herói decide partir .Embora
pareça contraditória, entre caprichos e sabedoria, a rosa é extremamente
feminina e sedutora. Por isso, cativa o coração do principezinho.
O
Rei
"É
preciso exigir de cada um o que cada um pode dar"É o primeiro dos “donos
do mundo” que o pequeno príncipe encontra nas galáxias. O rei pensa que tudo e
todos são seus súbditos e tem necessidade de controlá-los. Mas, com sabedoria,
ensina-nos que cada um só
pode dar
aquilo que tem.
O
Vaidoso
"Mas o
vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem elogios." O vaidoso precisa da
admiração de todos para comprovar o seu valor. Ele nos faz lembrar que
precisamos reconhecer nossos próprios talentos e capacidades, e não depender de
elogios dos outros para nos autoafirmar.
O
Bêbado
“– Por que é que bebes? –
Para esquecer. – Esquecer o quê? – Esquecer que eu tenho vergonha. – Vergonha
de quê? – Vergonha de beber!” O bêbado tenta escapar da realidade por meio do
álcool, mas não consegue escapar da vergonha de ser como é. O seu desabafo é um
alerta contra todos os vícios.
O Homem de negócios
"– E de que te serve possuir as estrelas?
– Serve-me para ser rico. –E para que te serve ser rico? – Para comprar outras
estrelas, se alguém achar. Esse aí, disse o principezinho para si mesmo,
raciocina um pouco como o bêbado." O homem de negócios está tão ocupado
contando o que acumulou que não pode desfrutar da vida. O pequeno príncipe
faz-nos ver que isso também é um vício. É preciso valorizar quem nós somos, e
não o que temos.
O Acendedor de Lampiões
"Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa,
e o regulamento não muda!" Um bom homem cumpre o seu dever. Mas como ele
mesmo diz, " É possível ser fiel e preguiçoso..."O universo está em
constante evolução. O homem, as crenças e as relações humanas também. Mas o
acendedor de lampiões não tem o bom senso de questionar as ordens e trabalha
sem parar, mesmo sabendo que não vai chegar a lugar algum.
O Geógrafo
"É muito raro um oceano secar, é raro uma montanha
mover-se...." O geógrafo sabe toda a teoria, mas não aplica seus
conhecimentos. Nunca sai da sua mesa para explorar as descobertas. Como um bom
burocrata, declara que isso é trabalho de outra pessoa. É ele quem recomenda ao
pequeno príncipe que visite o planeta Terra. E deixa o principezinho abalado quando lhe conta que sua
flor é efémera...
A
Jiboia
"‘Por que é que um
chapéu faria medo? ’[...] Desenhei então o interior da jiboia, para que as
pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de
explicações." A jiboia desenhada pelo piloto quando criança é o ícone que
nos ensina a ver além das aparências.
O astrónomo turco
"Mas ninguém lhe dera
crédito por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim."Os
adultos, especialmente os sofisticados materialistas, julgam pelas aparências.
Por isso, o astrónomo turco é desprezado pela comunidade científica até
aparecer em elegantes roupas ocidentais.
A Raposa
“Tu tornas-te eternamente responsável por
aquilo que cativas.” A sábia raposa ensina o pequeno príncipe a compartilhar. E
explica-lhe que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é
única, e foi o tempo que ele lhe dedicou que a fez tão importante. Cativar quer
dizer conquistar e requer responsabilidade. Responsabilidade por um amor, por
um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos na nossa carreira
profissional e pessoal. Seja responsável pelas suas conquistas. Valorize-se.
Cuide do que cativou.
A Serpente
"Mas sou mais poderosa do
que o dedo de um rei.” Embora fale sempre por enigmas, é a personagem mais
franca de toda a história. Ela respeita o que é puro e verdadeiro.
O Carneiro e a caixa
"Desenha um
carneiro para mim, por favor.” “Era assim mesmo que eu queria!”. Nada pode
corresponder ao poder da nossa imaginação. Ela supera o conhecimento, pois não
tem limites, e impulsiona-nos para novas descobertas.”Quando o mistério é muito
impressionante, a gente não ousa desobedecer.”
No
livro, a raposa ensina ao Pequeno Príncipe a importante lição de que as coisas
só ganham sentido quando se conhece a amizade. O Pequeno Príncipe compreende
que apesar de o mundo ter milhares de rosas, a rosa de seu planeta era única,
pois somente ela era merecedora do seu amor e do seu afeto. É estranho conceber
que o processo de individuação não esteja ligado única e exclusivamente ao próprio
sujeito que busca este estágio, mas tornar-se indivíduo só é possível quando
existe o outro. Não é possível ser único, se não for para alguém. Voltando à
lição da raposa, ela diz: “o essencial é invisível aos olhos”. A
individualidade faz-se nas pequenas coisas, nos detalhes que muitas vezes são
esquecidos. É através do afeto direcionado ao objeto que faz com que ele se
torne diferente dos demais objetos. Um jeito de sorrir, um pequeno defeito, ou
mesmo uma mania apaixonante são os reais responsáveis por que o sujeito possa
ser, então, considerado único. De contrário, sem estes atestados de afeto tão
simples e quase impercetíveis, todo o resto seria desperdiçado e o indivíduo
não passaria de mais um entre muitos. Como diz o Pequeno Príncipe, “o que torna
belo o deserto é que ele esconde um poço nalgum lugar”. Quando ganhamos um
presente, ele carrega o sorriso de quem o deu, a expetativa no desembrulhar. Se
fosse somente o presente em si, este não seria nada além de uma casca. Poucos
são os capazes de desfrutar destes pequenos detalhes, a maioria acaba
acreditando que estas cascas são o conteúdo que buscam. Nunca encontrarão
felicidade, viverão nessa eterna busca que não chega a lugar algum. Mas sobre
isso, prefiro que o próprio Pequeno Príncipe dê seu conselho: “Os homens do teu
planeta cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que
procuram...”, “ E, no entanto, o que eles procuram poderia ser encontrado numa
só rosa, ou num poço de água.”, “ Mas os olhos são cegos. É preciso ver com o
coração.
Um
fugaz ato, gesto ou palavra, podem alterar por completo o nosso destino e de
todos os que nos rodeiam... para o bem ou para o mal.
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