A importância da leitura
A prática da
leitura torna-se presente nas nossas vidas desde o momento em que começamos a
"compreender" o mundo à nossa volta. No constante desejo de decifrar
e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob
diversas perspetivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no
contacto com um livro, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma,
lendo - embora, muitas vezes, não nos demos conta.
A atividade de
leitura não corresponde a uma simples descodificação de símbolos, mas
significa, de facto, interpretar e compreender o que se lê. Sem dúvida que a
leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo
transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão
semântica dos mesmos.
Nesse processamento
do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns conhecimentos prévios do
leitor: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e
seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o
texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do leitor. Numa
leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é alcançada,
esses diversos tipos de conhecimento estão em interação. Logo, percebemos que a
leitura é um processo interativo.
Quando citamos a
necessidade do conhecimento prévio do mundo para a compreensão da leitura,
podemos inferir o caráter subjetivo que essa atividade assume. Conforme afirma
Leonardo Boff, cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é
necessário saber como são os seus olhos e qual é a sua visão do mundo.
A partir daí,
podemos começar a refletir sobre o relacionamento do leitor-texto. Já dissemos
que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já
referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios
necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com a sua
leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê e não,
apenas, adotar uma atitude passiva relativamente ao que lê. Quando atende a
essa necessidade, o leitor projeta-se no texto, levando para dentro dele toda
sua vivência pessoal, com as suas emoções, expetativas, seus preconceitos etc.
É por isso que consegue ser tocado pela leitura.
Dessa forma, o
único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo
quem constrói as imagens acerca do que está a ler. Por isso esta atividade revela-se
extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela, além de adquirirmos mais
conhecimentos e cultura - o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos
prepara melhor para atingir as necessidades de um mercado de trabalho exigente
-, experimentamos novas experiências, ao conhecermos mais do mundo em que
vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela nos leva à reflexão.
E refletir,
sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas da sua perceção. Quando
movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem renova-se
constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de
compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está
inserido. Assim, tem ampliada a sua visão do mundo e o seu horizonte de
expetativas.
Desse modo, a
leitura configura-se como um poderoso e essencial instrumento libertário para a
sobrevivência do homem.
Há, todavia, uma
condição para que a leitura seja de facto prazerosa e válida: o desejo do
leitor. Como afirma Daniel Pennac, "o verbo ler não suporta o
imperativo". Quando transformada em obrigação, a leitura resume-se a
simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura,
Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler,
o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler.
Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e
valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura
passa a ser um íman que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual
ele, por sua vez, não deseja desprender-se.